O mercado de RIG no Brasil como elemento de conservação da autoridade democrática

Quando falamos de futuro e de projeções de cenários, exercício muito comum às consultorias, o objetivo nem sempre é a previsão da tendência, mas da capacidade de influenciar os eventos presentes para moldar o que poderá vir pela frente. Ao contrário de cartomantes e esotéricos em geral, não há fatalismo na nossa atividade.

Nesse sentido, falar sobre o que o campo de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) irá se tornar é um exercício sobre escolhas que estamos para fazer diante de um cenário de atuação que tem se transformado tremendamente nos últimos anos.


O combustível de sempre dessas mudanças, a meu ver, é a busca por legitimação como parte do processo de consolidação da própria democracia. Numa dimensão, há a própria justificativa da existência do nosso trabalho, que frequentemente é questionada em análises rasas que o confundem propositadamente para dar explicações fáceis e erradas a questões complexas e profundas como corrupção e patrimonialismo.


Combater percepções deturpadas da atividade de RIG é um desafio atual e que vem sendo enfrentado com muita competência e coragem pela Abrig. Mas entendo que é preciso dar um passo além, isto é, apresentar-nos como um elemento de evolução das instituições brasileiras.


Em razão do nosso processo histórico recente, é possível afirmar que, de maneira geral, o setor privado deu um salto em questões de compliance e a esmagadora maioria dos profissionais que atuam no setor hoje estão submetidos a controles rigorosos. Ato contínuo, na medida em que o relacionamento com o setor público se torna menos suscetível a desvios em função do modelo de atuação do setor privado, o ecossistema das decisões políticas como um todo tende a melhorar.


A segunda dimensão da busca pela legitimidade é o crescimento da percepção que a sociedade tem sobre quais devem ser as responsabilidades sociais, econômicas e ambientais das empresas. A atuação das corporações em outras áreas, além do negócio em si, cria outros públicos de stakeholders que influenciam indiretamente a arena decisória e passam a compor também parte do leque de relacionamento do profissional de RIG. Nesse caso, o desafio é de formação, que passa a ser multidisciplinar, e de ampliação das especialidades contidas nas equipes de atendimento, resultando na ampliação da nossa visão, que se torna mais inclusiva e horizontal.


Tudo isso, no entanto, passa pela criação de estruturas institucionais que estimulem um comportamento de boas práticas e desenvolvimento. Como sabemos, muitas vezes, mesmo havendo perspectiva de bons resultados coletivos caso haja cooperação entre atores individuais, nem sempre isso acontece. É preciso incentivos para que, onde for possível, os players desse setor, mesmo focados em perseguir seus interesses e objetivos, possam fazê-lo dentro de parâmetros que gerem confiança entre todos os envolvidos neste campo.


A atuação da Abrig e a autorregulação do nosso campo são fundamentais para cumprir esse objetivo. Promover trocas de experiências, ampliando o acesso e sua diversificação, investindo em qualificação, ajudando a atualizar as discussões de compliance e ESG, promover boas práticas e o relacionamento institucional com a imprensa e os órgãos de mídia são todos expedientes que vão nessa direção. Todo esse trabalho talvez desague em uma regulamentação estatal que pode consolidar os princípios que têm orientado a entidade, mas ele é apenas uma parte de um objetivo maior que, como já se disse, é a conservação e o aprimoramento da autoridade democrática.


Jean Castro é vice-presidente da Abrig e CEO da Vector Relações Governamentais.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig. 

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