Gestão estratégica: indicadores para mensurar o resultado em RIG

E

m um contexto econômico desafiador, é cada vez mais intensa a necessidade que os times de Relações Institucionais e Governamentais têm em demonstrar seus resultados para outras áreas das suas organizações, em especial para justificar sua existência e garantir financiamento para suas atividades.


Considerando que a principal atribuição das equipes de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) é influenciar a formulação de políticas públicas através de táticas de RIG, mensurar influência é, ao mesmo tempo, essencial e um grande desafio.


Podemos definir a influência como o poder de moldar a política ou garantir tratamento favorável a alguém, especialmente por meio de status, contatos ou riqueza. Influente é aquele que tem a capacidade de mudar o comportamento, a crença, a opinião de outro ou de modificar a prioridade dos temas da agenda política. Isso é exatamente o que os grupos de interesse fazem no ciclo de políticas públicas.


Porém, ironicamente, ainda hoje, não existe uma metodologia científica rigorosa e comprovada para mensurar influência. Assim, existe uma espécie de desamparo nas estruturas de RIG quando chega o momento de atender às demandas de demonstração de resultados para a organização da qual fazem parte.


A Ciência Política, em estudos específicos sobre RIG, não se dedicou ainda a desenvolver uma ferramenta consolidada para que seja possível mensurar influência. A pesquisa acaba por se concentrar apenas em formação, organização, acesso e atividade dos grupos de interesse. Parece não haver interesse na academia em ampliar o entendimento sobre influência.


Muitas vezes, a pesquisa em Ciência Política equivale influência a poder político e, em algumas abordagens, automaticamente considera que quem possui os recursos para exercer influência já a possui.


É preciso, no entanto, refletir em que medida os recursos se traduzem em influência. É possível mensurar como o dinheiro se traduz em influência? A literatura comprova que nem sempre esse é o caso. Recursos, principalmente os econômicos, não se traduzem necessariamente em influência.


São muitos os obstáculos para mensurar influência, entre eles, identificar precisamente os verdadeiros objetivos dos grupos de interesse. São, ainda, muitas as variáveis que podem atuar como fator gerador de influência. Os cientistas políticos parecem ter grande dificuldade em entender esses reais objetivos buscados pelos grupos de pressão ao fazer esforços para influenciar.


Um elemento que dificulta, sobremaneira, a demonstração dos resultados de uma área de relações institucionais e governamentais é a falta de clareza sobre critérios objetivos e evidentes para demonstrar seu sucesso. Enquanto na maioria das demais áreas, papéis, metas e resultados estão bem definidos, o mundo de Relações Institucionais e Governamentais é governado pela incerteza de objetivos e significados.


Sendo assim, para mensurar resultados em RIG, é preciso partir da premissa de que não é viável mensurar influência, mas sim, sucesso. Para Christine Mahoney, os fatores determinantes do sucesso são três: 1. estrutura institucional do sistema político; 2. características do interesse defendido; 3. características do grupo de interesse e as estratégias e táticas que emprega. Também são três, as fases na escala de sucesso propostas pela autora: 1. Nenhum objetivo alcançado; 2. Alguns objetivos alcançados; e 3. Objetivos plenamente alcançados.


As áreas que desejam ser mais assertivas em sua mensuração de resultados poderão transformar esses três fatores determinantes de sucesso em indicadores. O primeiro indicador pode expressar o sucesso em aprovar, arquivar ou diminuir a velocidade da tramitação de um projeto de lei. O sucesso dependerá do objetivo de RIG para a ação que está sendo mensurada. O segundo indicador pode expressar o sucesso em interpretar um tema extremamente técnico e complexo em algo leve e simples para a opinião pública, o que se manifesta, por exemplo, no apoio a mensagem disseminada pelo grupo de interesse nas redes sociais ou no pronunciamento das autoridades públicas. O terceiro indicador pode expressar o sucesso do grupo em construir e manter coalizões coesas e atuantes, o que se manifesta pela sua capacidade de engajamento e mobilização.


Por fim, é preciso entender que medir sucesso não significa medir influência. Da mesma forma que um grupo pode o obter um resultado de acordo com suas preferências sem ter agido para que isso aconteça, outro grupo pode ter atuado fortemente sobre os legisladores, mas fatores contextuais diversos foram mais importantes para o resultado obtido. Um grupo de interesse que não tenha conseguido exercer influência, pode ser beneficiado por inúmeros fatores na obtenção de um resultado positivo, como por exemplo, a atuação independente de um agente político movido por interesses relacionados à sua base eleitoral.


Escrito por:


Andréa Gozetto

Diretora-executiva da Gozetto e Associados Consultoria Estratégica

Diogo Jodar

Consultor em Relações Institucionais e Governamentais


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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