Etanol é solução viável e eficiente contra a crise climática, diz Gussi

Em entrevista, Evandro Gussi, presidente e CEO da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e membro do Conselho Superior da Abrig, falou sobre a relevância do Brasil na tentativa de descarbonizar a economia. O país é referência no investimento em biocombustíveis, visando reduzir a emissão e CO2, sobretudo nos transportes. O etanol é a principal alternativa brasileira para substituir os combustíveis fósseis e, com isso, reverter as consequências do efeito estufa. Acompanhe a entrevista completa:

ABRIG: O Brasil é o maior produtor global de etanol a partir da cana-de-açúcar. Qual é a perspectiva de um mercado global para o etanol e o protagonismo do Brasil?


EVANDRO GUSSI: Com o etanol, o Brasil se coloca em posição de vanguarda nas rotas possíveis para uma economia de baixo carbono. Somos parte da solução, como costumamos afirmar. Temos experiência replicável em dois caminhos: por um lado, é uma maneira simples, rápida, fácil e barata de reduzir emissões. Por outro, não é necessário trocar a infraestrutura de um país nem mudar toda a frota de uma vez. Somos exemplo para diversos países. Em 2021, o Reino Unido decidiu ampliar a mistura de etanol à gasolina de 5% para 10%, nível semelhante ao adotado atualmente nos Estados Unidos, e a Índia antecipou para 2025 a meta de misturar 20% de etanol à gasolina. Mais de 60 países adotam ações semelhantes. É uma tendência que segue o exemplo brasileiro, mas devemos considerar as características de cada região e envolver a complementariedade de diferentes rotas tecnológicas.


ABRIG: Em abril, o senhor participou de uma missão do governo brasileiro à Índia para ampliar a cooperação entre os dois países. Qual é o balanço dessa agenda?


EVANDRO GUSSI: Os resultados foram muito positivos. A missão liderada pelo ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, com a presença dos setores sucroenergético, automobilístico e da indústria de base, teve uma agenda de altíssimo nível. Foram realizadas reuniões com três ministros indianos e com a iniciativa privada. O ministro dos Transportes na Índia é um grande entusiasta dos motores flexfuel, que temos no Brasil desde 2003. Ele acredita que, em breve, esses veículos rodarão nas cidades indianas, com a perspectiva de reduzir emissões de CO2.


No âmbito da UNICA, formalizamos um Memorando de Entendimento com a Associação dos Fabricantes dos Automóveis Indianos (SIAM). Essa parceria prevê iniciativas focadas em políticas para reduzir os níveis de emissões de gases de efeito estufa a partir do etanol. Criaremos um Centro Virtual de Excelência para bioenergia, que funcionará como um hub de informações importantes e atualizadas sobre avanços tecnológicos, normas técnicas, regulamentos, políticas públicas e sustentabilidade. Além do intercâmbio e promoção da bioenergia em nossos países, a cooperação poderá ajudar outras partes do mundo na elaboração de políticas para a mobilidade sustentável.


ABRIG: O agravamento do efeito estufa tem trazido grandes consequências mundiais, como as mudanças climáticas. Qual é o papel que o etanol pode exercer para descarbonizar a economia e reduzir essa emissão de gases de efeito estufa?


EVANDRO GUSSI: Na 21ª Conferência do Clima, em 2015, tornou-se evidente que as ações para reduzir o aquecimento global abrangeriam, necessariamente, a descarbonização do setor de transportes, responsável por quase 25% das emissões. Nessa perspectiva, a experiência consolidada do Brasil, em mais de 40 anos com o etanol, apresenta não apenas uma alternativa energética à gasolina, mas uma solução viável e eficiente à mitigação da crise climática. A mistura de etanol no combustível fóssil, quando adotada por meio de políticas públicas claras e de longo prazo, pode proporcionar diminuição imediata das emissões no setor automotivo. No Brasil, a presença de 27% de etanol na gasolina garante a redução de 15% nessas emissões. Se considerarmos o etanol hidratado, utilizado nos carros flexfuel, as emissões são de até 90% menos CO2 do que o combustível fóssil.


ABRIG: No mundo, 80% da energia produzida ainda é de origem fóssil. O que falta para que os governos invistam no processo de transição energética, priorizando os recursos naturais e renováveis?

EVANDRO GUSSI: É uma equação muito complexa, que precisa considerar diversos aspectos não somente ambientais, mas econômicos e sociais também, por isso talvez não se caminhe a passos tão largos como gostaríamos. Mas temos hoje um cenário muito promissor. Vamos observar o exemplo do Brasil na matriz de transportes. Com o RenovaBio, o programa Combustível do Futuro e as iniciativas junto à indústria automobilística, chegamos a um nível de maturidade que nunca existiu, unindo em torno de um objetivo comum os principais agentes capazes de tomar decisões. Temos de um lado uma demanda fantástica para a grande capacidade de entrega do Brasil em biocombustíveis, e por outro os agentes alinhados para fazer essas entregas. Estou com muita esperança nos próximos anos para esse processo e acredito que o avanço rumo ao uso de energias renováveis se estende a diversas partes do mundo.



*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  

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