Educação política como uma iniciativa de ESG

E

mpresas devem promover cursos de educação política para seus colaboradores e lideranças?

O tema é apropriado para ser tratado quando uma eleição presidencial se aproxima, mas está longe de ser um consenso. E o motivo é simples: política, quando é partidária, divide. Formação política tem relação com a família e, portanto, tem uma dimensão pessoal e subjetiva muito forte. Mas isso significa que ela precisa ser tratada como um tabu? Também não!


É possível ver a educação política como uma parte das estratégias de ESG a partir de, pelo menos, três dimensões: cidadania corporativa, comunicação corporativa e relações governamentais.


A primeira trata da própria relação entre a empresa e a sociedade nas suas dimensões sociais, econômicas e ambientais. O pano de fundo da cidadania corporativa é a necessidade de as companhias buscarem bases de legitimidade para seu negócio, justificativas públicas para a sua existência, que vão além da busca de retorno para seus investidores. Aqui, podem ajudar cursos de compliance, debates sobre valores e estudos de governança que flertam com conceitos de políticas públicas.


Como exemplo, recentemente uma empresa descobriu que, para diminuir a percepção de risco ambiental do seu produto, era preciso que as políticas de gestão de resíduos sólidos das cidades funcionassem melhor. Lá foi estudar políticas públicas nessa área para ajudar o poder público a executar melhor o seu papel para que o negócio pudesse sobreviver no longo prazo.


Colada à cidadania corporativa está a comunicação. Em tempos de redes sociais e hiperconectividade, todo funcionário de uma empresa é, também, seu porta voz, seja quando está trabalhando, seja quando está de folga. Funcionários e funcionárias precisam ser engajados na estratégia de legitimação do negócio e, portanto, também precisam ser parte ativa dos cursos de educação política como meio de realizar os objetivos da cidadania corporativa. Mais do que nunca, não basta ser um bom colaborador. É preciso ser um bom cidadão.


Por fim, as relações governamentais, no seu sentido mais estrito, tratam dos canais de participação de uma empresa junto ao poder regulatório como um todo. Nesse caso, é preciso saber como as decisões políticas são construídas, ter capacidade de interpretá-las olhando para o mapa de riscos da empresa, ter capacidade de formular junto às áreas de negócio possíveis reações e, por fim, comunicar as autoridades sobre as opiniões da empresa, com o objetivo de influenciar o desenho final do ambiente de negócios. Cursos de lobby, funcionamento dos poderes e políticas públicas são essenciais para formar a turma responsável por esse verdadeiro telescópio político.


Portanto, é possível ver que educação política nas empresas (e pelas empresas) é algo necessário, embora tenha que ser feita com cuidados, respeitando as preferências partidárias que são sempre pessoais e subjetivas. Legitimidade, cidadania e participação ativa no desenho do ambiente regulatório formam um tripé que mais do que justifica a sua inclusão nas estratégias de ESG.


Por: Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB com especialização em comportamento eleitoral e institucionais governamentais. É  associado à Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais - Abrig e, atualmente, sócio da Vector Research. 



*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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