A relevância do ESG no jornalismo reflete protagonismo do tema na arena global

O jornalismo brasileiro trata, com cada vez mais relevância, o tema ESG, sigla em inglês para se referir ao tema de Meio Ambiente, Social e Governança. Países e empresas são cada vez mais cobradas pela sociedade e estão cada vez mais empenhadas em entregar uma agenda sustentável em seu dia a dia.


O tema, na visão do repórter especial do jornal O Globo, Henrique Gomes Batista, transcende a todos os temas e passa por todas as pautas, política, economia, sociedade, saúde e cultura. “A importância do ESG não é apenas uma ideologia ou utopia, é algo que está realmente sendo posto em prática”, afirmou.


Leia, abaixo, os principais pontos da entrevista com o jornalista, que antes de ser correspondente de O Globo por três anos em Washington-DC, trabalhou em Brasília cobrindo política e economia para o jornal carioca “Valor Econômico” e para o SBT. 

ABRIG: O tema ESG ganhou relevância nos últimos tempos. Como você cobre o assunto, qual o nível de preocupação há no jornalismo hoje?


HENRIQUE BATISTA: No começo de 2020, eu tinha quase certeza que o tema do ano seria ambiental, ESG. Veio a pandemia, eu imaginei que ela roubaria o protagonismo da questão ambiental, mas não roubou. Mesmo com a crise sanitária, o tema ambiental ganhou uma importância muito maior. A eleição de Joe Biden, nos EUA, colocou de vez o tema ambiental como a principal agenda mundial hoje, tirando a emergência da Covid.


ABRIG: E, dentro da tua cobertura, você acha que esse tema ganhou espaço e protagonismo?


HENRIQUE BATISTA: Para mim é muito nítido quando você vê, por exemplo, a apresentação dos resultados das companhias. Antes de falarem em receita, lucro ou investimento, se fala de ESG. E não é apenas uma figura de linguagem para ficar bonito na foto. Significa que a busca por uma empresa mais saudável é fator de negócios e de sobrevivência. Então, isso virou fator central, realmente, nas empresas e na cobertura jornalística. O meu veículo de comunicação, por exemplo, – o Grupo Globo –, criou um selo específico “Um Só Planeta”, que é uma transversal que transcende várias editorias para tratar de questões ambientais. Antes, a gente podia pensar que era um tema nichado, específico, mas, hoje, realmente transcende e vai desde política, economia, sociedade, saúde, cultura... é uma questão que realmente transcende os rótulos, ou seja, está cada vez mais abrangente e mais presente na vida das pessoas.


ABRIG: Em relação ao mercado financeiro, que tipo de preocupação você vê dentro do mercado financeiro com esse tipo de empresa verde?


HENRIQUE BATISTA: É muito relevante. Do ponto de vista financeiro, ESG vai ser um fator preponderante para os financiamentos. Os bancos centrais do mundo estão criando uma agenda verde para que a concessão de crédito, de juros diferenciados, leve em conta a questão ambiental. Ou seja, o financiamento global vai se tornar instrumento para transformação ambiental do planeta. Não é mais apenas uma ideologia ou utopia, é algo que está realmente sendo posto em prática.


ABRIG: Você foi correspondente de O Globo por três anos em Washington, DC. No começo da sua estada ali, você via esse assunto emergir, sentia esse assunto dentro do FMI, do Banco Mundial? E, depois, em que momento você viu a coisa ganhando corpo?


HENRIQUE BATISTA: Foi muito rápido. No começo, ainda era aquela questão nichada, muito específica. Mas, rapidamente, se tornou uma questão preponderante. Isso coincide com a piora do sentimento da situação ambiental, das mudanças climáticas. E o que chama a atenção é que ele ganhou força, mesmo com o governo de Donald Trump que, obviamente, é negacionista na questão climática, mas, que é uma prova de como a sociedade e a iniciativa privada se movimentam de forma paralela para atender à demanda. Assim, não é mais que você pode brigar ou não com isso, você tem que atender a demanda de ser totalmente sustentável.


ABRIG: Em relação a relação EUA-Brasil na questão do meio ambiente, qual futuro você projeta?


HENRIQUE BATISTA: O governo brasileiro precisa ter muito claro qual a sua estratégia e quais as suas ações na agenda ambiental. Enquanto isso não ficar claro, o governo americano não vai ficar parado. Vai repetir mais ou menos o que fez a Alemanha, procurar entidades empresariais ou governos locais para criar parcerias e uma agenda comum.


ABRIG: Para o ano que vem, eleição aqui no Brasil, você acha que o tema ESG vai estar na pauta do dia?


HENRIQUE BATISTA: Sem dúvida vai estar na pauta do dia, mas, talvez, não com a centralidade que a gente vê em outras ações, porque a gente tem crises muito fortes na economia, na área social, na área de saúde, além da crise institucional. Mas, o Brasil, para não ficar atrás, para tentar recuperar a economia, precisa trilhar esse caminho da economia sustentável. Só assim vai gerar a possibilidade de um crescimento duradouro do país.


Entrevista com o jornalista Henrique Gomes Batista.


*Os conteúdos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abrig.  


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